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O que é amor? Parece uma pergunta óbvia não é mesmo, mas, não é? A aparente simplicidade dessa resposta requer um mergulho profundo na essência, pois o amor é um sentimento único, necessário e sobretudo essencial, tão precioso que nem todo o ouro ou prata seria capaz de comprá-lo. É virtuoso quem o encontra, e é para quem está disposto a percorrer a jornada. Ele está recoberto de uma armadura espessa e invisível que nos distancia dele. Platão releva que é necessário aprender a amar. Para Santo Agostinho a medida do amor é amar sem medida.
E o amor-próprio? Amar a si mesmo, com profundidade, com verdade e intensidade a ponto de ser fiel e irrevogável a sua própria lealdade.
Desde a gestação até a maioridade somos treinados a amar segundo regras e preceitos preexistentes, somos doutrinados a viver em uma fôrma e não experimentarmos ser quem somos, por vezes, não nos reconhecemos, pois, vestimos a armadura da sobrevivência. Cada vez mais empacotados e menos espontâneos. Por isso, tanta dor e destruição, amar é viver na humanidade.
Khalil Gibran, em seu livro O Profeta, foi profundo até nos detalhes ao falar do amor e nele o autor retrata a importância de o amor ser desenvolvido primeiro na linha vertical (olhando para si, para dentro e para o alto) alcançando um patamar elevado e profundo, muito bem definido.
Santo Agostinho que disse que somente ao olhar para o alto, para o Divino, encontramos o verdadeiro amor e nele a felicidade. E aí sim estaríamos prontos para alargar essa experiencia nas relações horizontais, com as pessoas a nossa volta.
O que normalmente acontece é o oposto, primeiro investimos nas relações horizontais (com os outros) e quem sabe um dia a vertical (e si mesmas) ou amor-próprio. Encontrar o amor requer se elevar a ponto de se encontrar a sua própria essência, num patamar sólido, sentindo a essência de si.
Ainda sobre o livro O profeta, Almitra, a sacerdotisa, pergunta: – “Fala-nos do amor, e nesse momento ele (o profeta) se cala, olha para cima e se silencia, antes de começar a falar… “Khalil retrata em cada palavra um chamado, um significado e uma tarefa; e é aí temos o nosso primeiro ensinamento: para falar do amor, precisamos nos silenciar das vozes internas e externas, e nos conectarmos ao nosso eu interior. A nossa consciência que tagarela o tempo todo precisa se calar e deixar vir à tona o nosso mais profundo eu, pois o externo e superficial não tem capacidade de entender tamanha profundidade, quiçá se dá conta da importância.
Por que então, tantas pessoas sonham, buscam, poetizam, romantizam e encenam o amor? Porque para algo que parece simples e banal para muitos é superficial e muito raso, muitos não o encontraram ou encontrarão, prova disso é o nosso planeta estar em apuros, causamos guerra e destruição.
Falar de amor ao que parece não tem nada de simples. Quando amamos cuidamos e nos preocupamos com o bem-estar do outro e do planeta, nossa terra, nosso lar. O próprio Jesus Cristo foi crucificado nessa tentativa de ensinar sobre o amor, pois para amar é preciso negar o incerto e o duvidoso, é necessário rejeitar o desumano, a escravidão, o apego. Amar tem a ver com construir pontes, abrir portas e incluir o que for necessário. Quanto mais amamos mais nos humanizamos, menos tentamos ser perfeitos fugindo da nossa essência humana que é servir.
Platão disse: ‘A melhor coisa que você pode fazer pelas pessoas que ama é crescer como ser humano.” O amor é o resultado de certas derrotas e de certas debilidades, é experimentar entender com o coração as imperfeições humanas, é a conquista de novos lugares, novos conceitos, novos olhares e sobretudo acolher o outro como a si mesmo. Porém, existe uma guerra interna, um conflito em ser perfeito, ser amado e ser vitorioso, sem entender que o olhar que vem de dentro não exige nada, a não ser, ser quem você é.
Como amar o outro nessa totalidade se ainda não aprendemos a nos amar?
Como aceitar os defeitos e as debilidades do outro se não as negamos em nós?
Percebe a complexidade?
Para amar você tem que se despir, despedir de coisas do passado, desapegar, perdoar, ressignificar, para amar precisa estar leve, e esse trabalho é árduo, duro e desafiador. O amor é exigente, não quer suas fantasias, não quer as suas máscaras, ele quer você como você é. Amar é se aceitar, amar é sentir paz, amar é se libertar de crenças e amarras que foram repassadas de gerações em gerações é deixar tudo para traz para poder seguir leve e poder olhar para outro com a mesma clareza e profundidade que você seria capaz de olhar para si mesmo.
O amor é exigente, e para amar é preciso ser capaz de se elevar, derrubar barreiras e preconceitos, fortalecer as suas raízes e se purificar. Saber escolher dentro de você aquilo que você não é, ficar com o que realmente importa. É um trabalho árduo, de crescimento, de autoconhecimento, de aceitação até o ponto de se sentir confortável dentro de si.
Se o amor não for amplo, ilimitado, sem amarras ou cercas não é amor. Platão dizia que o amor horizontal, entre as pessoas é o mais comum, numa relação toma lá dá cá, de troca de circunstâncias e de alianças. Daquelas sustentadas nas raízes do egoísmo, vestidos de orgulho, ninguém vê ninguém, todo mundo precisa ser servido e atendido numa relação de sobrevivência.
Amar é desfrutar de si e ao se conhecer profundamente poder contribuir servindo através do dom de amar. O desafio é conseguir se desconectar do homem exterior e se reconectar ao homem interior.
Amar é um verbo e, portanto, uma ação.
Então, mãos à obra!
Pesquisa bibliográfica:
0 Profeta (1923). Khalil Gibran
O banquete. Platão
Bíblia Sagrada – sobre o amor
Amor e felicidade – Santo Agostinho
Escrito por
Susi Scaramal
Socioterapeuta
04/06/2021