Depressão e Pandemia

Tempo de leitura: 4 minutos

Uma equação que não fecha:

Estamos com quase 500 dias, desde que a pandemia foi oficialmente decretada no Brasil. Diante de um cenário nunca antes imaginado:

  • Mais de 16 milhões de pessoas infectadas;
  • Aproximadamente 468 mil vítimas;
  • Escassez de vacinas, com pouco mais de 10% de imunizados;
  • 970 pessoas mortas por dia!!!

Vivemos uma nova ordem social sem precedentes.  

Freud em seu livro de 1930, “O mal estar da civilização”, fala de três fontes de sofrimento humano: Fragilidade de nossos corpos e o processo de envelhecimento; catástrofes e Relações humanas (interpessoais). E hoje, a pandemia nos colocou frente a frente com essas fontes.

Byung-Chul Han, filósofo sul coreano, escreveu em 2017 o livro “Sociedade do Cansaço”. Ele nomeia o começo do século XXI como neuronal: “Doenças neuronais comoo a depressão, transtorno de déficit de atenção com síndrome de hiperatividade (Tdah), Transtorno de personalidade limítrofe (TPL) ou a Síndrome de Burnout (SB) determinam a paisagem patológica do começo do século XXI”.

Para Han, vivemos em uma sociedade que valoriza a velocidade, com pessoas cada vez mais esgotadas e hiperativas que estão numa busca incansável e frenética a realizar múltiplas tarefas, na ilusão de dar conta de um desempenho. O que se traduz, certamente, em um processo destrutivo. 

O que Freud e Han sinalizam, hoje com a pandemia está agravado.

Segundo o DSM5 – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – a Depressão caracteriza-se pela presença de humor triste, vazio ou irritável, acompanhado de alterações somáticas e cognitivas que afetam significativamente a capacidade de funcionamento da pessoa. 

Dos vários tipos de transtornos que o DSM5 aponta, vou aqui focar o Transtorno Depressivo Maior, que é diagnosticado ao se identificar a presença de 5 (ou mais) dos seguintes sintomas:

  1. Humor deprimido (triste, vazio e/ou irritável);
  2. Acentuada diminuição do interesse ou prazer;
  3. Perda ou ganho significativo de peso sem estar fazendo dieta;
  4. Insônia ou hipersonia quase todos os dias;
  5. Agitação ou retardo psicomotor;
  6. Fadiga ou perda de energia;
  7. Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou inapropriada;
  8. Capacidade diminuída para pensar ou se concentrar, ou indecisão;
  9. Pensamentos recorrentes de morte.

É importante avaliar que quaisquer dos sintomas de depressão: Apresentem duração de pelo menos duas semanas; representem uma mudança importante em relação ao funcionamento anterior da pessoa e prejudicam a pessoa nos diversos planos da vida.

Arnaldo Antunes, sem falar de depressão, apresenta de forma poética o que vive, sente e sofre a pessoa depressiva:

Socorro, não estou sentindo nada
Nem medo, nem calor, nem fogo
Não vai dar mais pra chorar
Nem pra rir

Socorro, alguma alma, mesmo que penada
Me empreste suas penas
Já não sinto amor nem dor
Já não sinto nada

Socorro, alguém me dê um coração
Que esse já não bate nem apanha
Por favor, uma emoção pequena
Qualquer coisa

Qualquer coisa que se sinta
Tem tantos sentimentos, deve ter algum que sirva
Qualquer coisa que se sinta,
Tem tantos sentimentos, deve ter algum que sirva

Socorro, alguma rua que me dê sentido
Em qualquer cruzamento
Acostamento, encruzilhada
Socorro, eu já não sinto nada

Segundo a OMS, antes da pandemia, o Brasil já era o país mais ansioso do mundo e, também, apresentava a maior incidência de depressão da América Latina, isso impacta cerca de 12 milhões de pessoas.

Durante a pandemia, a situação se agravou: estudo realizado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UEFJ) revelou um aumento de 90% nos casos de depressão. 

Pesquisa realizada pela Universidade de São Paulo (USP) em onze países, o Brasil é o país que mais tem casos de (59%).

Acredito que chegaremos sim ao final desta pandemia. E vamos nos deparar com um tsunami emocional impressionante, decorrente do aumento da vivência de luto pela perda de pessoas querida; as perdas socioeconômicas; e o estado de vulnerabilidade das pessoas às ideações suicidas e práticas daí decorrentes.

O que pode ser feito, para ajudar/tratar?

Acabar com o preconceito que ronda as doenças mentais é um primeiro passo. 

A busca pela saúde emocional passa por acompanhamento profissional: psicoterapia individual e/ou de grupo, círculo de equilíbrio emocional, avaliação psiquiátrica (em alguns casos) e terapias complementares como Dança Circular, Floral, Aromaterapia, entre muitas outras.

Please follow and like us:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *